10 de dez. de 2010

Dinheiro velho vira adubo

Banco Central desenvolve parceria para produzir composto orgânico no Pará; projeto pioneiro pode ser estendido para todo o País




Cédulas rasgadas, rabiscadas, grampeadas, amassadas ou sem a fita de segurança. Por ano, o Banco Central recolhe e destrói 1.700 toneladas dessas notas velhas, todas em mau estado de conservação, e depois deposita os resíduos em lixões espalhados pelo País. Mas isso começa a mudar. Agora, um projeto piloto desenvolvido pelo BC em parceria com a Universidade Federal Rural do Amazonas (UFRA) e o governo do Pará está transformando esses papéis velhos, que perderam valor, em adubo. O composto orgânico deve ser distribuído a comunidades carentes em Belém.






O mundo inteiro tem esse resíduo de cédulas inutilizadas e não sabe o que fazer com ele”, diz José Flávio Silva Corrêa, presidente do Sindicato dos Funcionários do Banco Central (Sinal) em Belém e um dos responsáveis pelo projeto. “O trabalho tem o objetivo de incentivar a agricultura familiar.”



A receita para as notas velhas virarem adubo é simples. Notas trituradas são misturadas a materiais orgânicos, como restos de frutas e legumes, que 70 dias depois se transformam em adubo. Do total da mistura, 10% são notas velhas. Para os pesquisadores, o resultado é um adubo considerado “muito bom”, superior ao esterco bovino, mas inferior ao de galinha. A reciclagem do dinheiro está sendo feita na Ceasa de Belém.



O custo é de 100 quilos de cédulas picadas (ou aproximadamente 12 mil notas) usadas na produção do adubo orgânico poderia ser estimado em R$ 1.800 – considerando que o Banco Central gasta em média 15 centavos para fabricar uma nota nova de dinheiro, e sem levar em conta a deterioração do papel-moeda após ser inutilizado e triturado.



Até 2012, o objetivo do projeto é reciclar 11 toneladas de notas trituradas por mês na região Norte, suficientes para produzir aproximadamente 17 toneladas de adubo. Para isso, estão previstos investimentos de aproximadamente R$ 145 mil – o Banco Central financiará R$ 100 mil e o restante virá do governo estadual.




No Brasil, o número de notas em circulação caiu 4,6% em outubro na comparação com janeiro deste ano, para 4,16 bilhões de cédulas da primeira família de notas, lançadas em 1994, ano do Plano Real. São 200 milhões de cédulas a menos no ano, que custaram quase R$ 30 milhões para serem produzidas.



Se todas essas notas que saíram de circulação de janeiro a outubro fossem recicladas, seria possível produzir quase 2,5 mil toneladas de adubo. Para se ter uma ideia da proporção, no ano passado o Brasil produziu um total de 5,2 milhões de toneladas de insumos orgânicos, segundo dados da associação do setor, a Abisolo.



Além da destinação social, o projeto tem impacto ambiental. Em Belém, as notas retiradas de circulação costumam ser levadas ao aterro sanitário do Aurá. “Se o material é celulose, por que não usar as notas em um projeto de reciclagem?”, conta Carlos Augusto Costa, pesquisador da UFRA.



Certificação



O adubo resultante do processo de reciclagem de dinheiro deverá ser distribuído a comunidades carentes em Belém. A doação pode significar uma redução de até 30% dos custos dos produtores locais, segundo Carlos Augusto Costa, pesquisador da UFRA responsável pelo projeto.



No entanto, ele diz que por enquanto o adubo não está sendo distribuído aos produtores, mas está sendo usado apenas para testes e para nutrir hortas plantadas na própria Ceasa. “Somente depois da certificação pelas autoridades competentes é que o produto será distribuído a famílias da região”, afirma Costa. A expectativa é que o Ministério da Agricultura certifique o produto até no máximo 2012.
Corrêa, do BC em Belém, explica que os testes realizados nos últimos quatro anos mostraram que o adubo feito com as notas – que contém metais pesados em sua composição – não oferece nenhum risco à saúde quando usado na proporção de 10% no total da mistura.




Depois de obter a certificação do adubo, os planos são de expandir o projeto para outras regiões do Brasil. “Temos condições de reciclar um volume muito maior de notas. Assim que estiver em fase final de implantação, vamos estender a ideia para as outras regionais do Banco Central espalhadas pelo País”, afirma Sérgio Belsito, presidente nacional do Sindicato dos trabalhadores do Banco Central (Sinal).



Os planos de expansão ainda não estão definidos, mas os responsáveis pelo projeto consideram opções como a implantação de usinas de compostagem e o treinamento de monitores para difundir a reciclagem entre os pequenos produtores, que poderão produzir o adubo que será utilizado em suas propriedades.



A iniciativa também está atraindo atenção internacional. Segundo Belsito, o Banco Central da Angola já demonstrou interesse pelo projeto. “Eles nos procuraram para saber mais sobre o projeto e estão muito interessados em adotar algo similar”, diz ele.



Corrêa, do BC em Belém, afirma que não se tem notícia de projeto semelhante. Segundo ele, a Irlanda adota um procedimento de compostagem para minimizar o impacto ambiental do descarte das cédulas de dinheiro. “Mas o projeto que estamos desenvolvendo aqui no Brasil é único no sentido de se preocupar tanto com a questão ambiental como o aspecto social”, comemora Flavio.



Para o Banco Central, “buscar alternativas ambientalmente corretas faz parte dos valores que orientam suas ações. Por isso o convênio de pesquisa de possível solução”. “Se for encontrada uma ou mais soluções, serão provavelmente adotadas”, afirma a instituição por meio de sua assessoria de imprensa.



Moedas



As moedas não sofrem com esse processo – em geral, elas são usadas, em média, por vinte anos. Quando são descartadas, as moedas são amassadas e descaracterizadas e enviadas para ferro-velhos. O volume total de moedas aumentou 7,5%, de 15,59 bilhões em janeiro para 16,76 bilhões em outubro.



Fonte:IG

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